Implantado num terreno plano e de geometria pouco convencional, este edifício em São Paulo apresenta uma solução muito particular para os apartamentos.

Ao formar o terreno para o prédio, uma casa remanescente da ocupação original acabou por não ser incorporada, resultando num grande recorte e impondo uma faixa estreita e não edificável junto à esquina. Desta maneira, esta faixa ficou praticamente isolada, o que permitiu que abríssemos este terreno como uma pequena praça urbana, um espaço verde para todos. Adicionalmente, a ideia de que o pavimento térreo fosse o mais aberto para a cidade, verde e sem muros e grades ostensivas também se repete na entrada principal do edifício: um simpático jardim se soma à calçada, enquanto os limites de acesso acontecem de maneira afastada. Temos sempre claro que a paisagem e a vida urbanas são também decorrentes dos projetos individuais, e não apenas do planejamento público. Desta maneira, ceder um espaço à cidade é, em última instância, criar um cidade mais humana, melhorar a vida de todos, não apenas dos moradores do novo edifício.

Localizado próximo ao Parque do Ibirapuera, pensamos que seria muito interessante se as áreas sociais dos apartamentos pudessem ter uma vista para o parque. Um desafio adicional foi proporcionar também espaços com pé direito duplo Para alcançar este objetivo, a solução foi buscar as frestas visuais entre os edifícios vizinhos. Desta maneira, os apartamentos de 185m², em pavimentos com um único apartamento, foram organizados em três prumadas: a leste, concentramos os dormitórios em plantas-tipo, em cuja porção frontal acomoda-se a escada de incêndio do prédio, marcando-o com um grande e sólido elemento em concreto aparente; a oeste, as áreas sociais organizadas em plantas invertidas entre si, conformando um elemento mais transparente, contrastando com a prumada dos quartos; e, no centro, de forma mais recuada e atuando como um elemento de separação entre as demais prumadas, temos a cozinha dos apartamentos e o elevador social.

Na área social, para obtermos alguns espaços com o pé direito duplo desejado, a solução foi criar plantas invertidas. Num pavimento, temos a sala de estar envidraçada e voltada à frente do edifício, e a sala de jantar para o fundo, conformando um objeto bem definido. No pavimento seguinte, a inversão faz com que o volume sólido da sala de jantar se projeta sobre a sala de estar do pavimento abaixo, gerando vãos com pé direito mais alto. A inclinação da sala de jantar tem um objetivo duplo: a inclinação enfatiza a independência deste objeto, aumentando o contraste entre sua massa e o vazio envidraçado da sala de jantar; além disso, orienta a abertura da sala de jantar para as frestas entre os edifícios vizinhos, permitindo uma vista em direção ao parque.
Enquanto o nítido bloco de concreto da prumada leste pousa diretamente no solo, a prumada das salas se apoiam sobre um grande objeto flutuante. O primeiro pavimento do edifício acomoda parte das vagas de veículos, complementando as vagas subterrâneas. Revestido em ladrilhos hidráulicos brancos, a garagem em sobressolo configura um objeto fechado que paira sobre um térreo livre e fluido. A entrada principal para pedestres acontece no hiato entre este bloco branco e a torre de concreto aparente, o que cria um espaço de pé direito alto e dramático. Ao entrar através do jardim integrado à calçada, o visitante acessa o lobby através deste vazio que acomoda tão simplesmente um espelho d’água. Refletido nele, a paisagem do jardim do fundo demonstra a abertura e integração entre a área interna e externa do edifício. A ausência de vedação entre o lobby e o jardim, enfatiza a conexão e amplitude do espaço que abriga o salão de festas, sala de jogos e brinquedoteca. Na área externa, uma ilha de vidro cercada de verde acomoda a academia.